Volumes projetam-se sobre vazio de 15 m de altura

A cidade de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, é famosa pela natureza domada, pela paisagem turística e pelos vinhos produzidos ali, que estão entre os melhores nacionais. Essa vocação nasceu quando ainda era uma colônia, e em 1890 ganhou seu nome em homenagem ao herói farroupilha, Bento Gonçalves da Silva. Outra vertente de destaque é a da indústria moveleira: há cerca de 330 indústrias de móveis produzindo na região. Dentre elas, a Dellanno, especializada em móveis planejados.

A empresa necessitava de um espaço de exposições dinâmico e atraente para divulgar suas duas linhas de mobiliário, a Dellanno e a Favorita. O projeto de arquitetura do novo showroom da empresa também nasceu gaúcho, fruto da união entre um arquiteto com 50 anos de experiência, Pedro Simch, e dois jovens formados ainda no meio de nossa década, Enrique Sousa e Fernando Guerra. A união entre cabeças de diferentes gerações forma um caldo de referências que pode produzir ideias com grande qualidade, e surpreendentemente atemporais.

A função de um showroom é, basicamente, conter e expor da melhor maneira possível todas as épocas e tendências, permitir a definição de temporalidades e ainda assim se manter isento delas. A nossa viagem à serra gaúcha encontrou muito mais que isso. "Em geral os showrooms são caixas herméticas, com paredes cegas. Mas criamos prédios altamente permeáveis e integrados com a natureza", explica Pedro Simch.

De fato, o conjunto de 2,2 mil m2 está literalmente incrustado no sopé de um pequeno vale e abraça cada desnível do terreno irregular. Nasce na forma de uma construção térrea livre de interferências, confinada apenas por vidros piso-teto marcados pela ortogonalidade de sutis esquadrias de alumínio pretas. O volume transparente apresenta linhas elegantes, vide a robusta platibanda que nasce a partir do forro interno e se projeta contínua além da pele de vidro, formando uma marquise sustentada por dois delgados pilares de concreto. O ambiente é reservado a eventos e exposições artísticas, e também conta com um espaço gourmet de apoio.

Na porção lateral, uma escada de concreto com revestimento de aço inox desce em curva ao subsolo, onde encontra um auditório com capacidade para 80 pessoas, aberto para o terreno escavado, e um estacionamento enterrado que ocupa toda a porção posterior.

A partir da área de eventos, dois volumes retangulares abrigam os showrooms. Quase paralelos, os braços atravessam transversalmente o terreno longitudinal e, como se faltasse solo suficiente para o apoio, projetam-se para um vazio de 15 m de altura, como se fossem saltar sobre as serras em uma resposta enfática do homem à força da natureza. Quem permite o dramático balanço são lajes de concreto e robustas vigas, sobre as quais sustentam-se pilares e estrutura de cobertura metálicos. A transparência retorna, dessa vez marcada por esquadrias mais encorpadas, na forma de janelas que permitem ventilação natural. A luz entra por todos os lados, assim como a cor do intenso paisagismo do entorno. "Quem definir os layouts para os showrooms vai ter de inovar e saber lidar com a transparência e a natureza", explica Simch. A pureza formal é complementada por pilares periféricos externos, destacados e modulados, que liberam toda a área interna para a disposição livre dos móveis.

A transição entre o volume da recepção e os espaços expositivos é marcada por paredes de pedras basálticas, com saliências e reentrâncias que se contrapõem à leveza dos vidros. A rocha é natural da região e está presente em todos os paramentos que transmitem força e sustentação, como as paredes de vedação do estacionamento e os orgânicos muros de arrimo que acompanham a topografia do terreno. "A escolha é resultado de um trabalho intenso de busca de pedras da região e pesquisa de tipos de paginação e coloração", explica Enrique Souza.

Já os revestimentos internos acompanham o conceito de flexibilidade necessária à montagem dos layouts. O forro é composto de aletas, réguas de MDF pintadas de branco que permitem a alteração da iluminação de acordo com a disposição do mobiliário. "Como a cada dois meses todos os showrooms são alterados, o forro permite qualquer alteração luminotécnica que o projeto exija", explica Souza. Para o piso foi escolhido um porcelanato polido semibrilho, neutro, que compete com o prédio, a pedra e o vidro.

Acesse aqui o site da revista e veja os desenhos técnicos, com link disponível logo abaixo da fotografia.


Fonte: Revista Arquitetura e Urbanismo

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