Colecionadoras de casas

Em um Estado vasto como o Texas, as pessoas que se sentem levadas a colecionar coisas não têm de se contentar em enfileirar copos da época da Grande Depressão nas prateleiras. Elas podem externar para valer suas obsessões e colecionar casas.

Sempre que tem tempo livre, Taunia Elick percorre os campos de sua região à procura de velhas casas de madeira, que são sua paixão. Nos últimos 30 anos, ela comprou 23. Mas, em meados da década de 90, Taunia, que inicialmente gostava apenas de reformar e vender casas velhas, tornou-se uma colecionadora. Agora, tem 18, algumas das quais retirou de seu local original e transportou para a propriedade de cerca de 4 mil hectares que possui com o marido, John, em Bellville.


Embora as casas custem relativamente pouco, ou mesmo não custem nada sem o terreno, ela gasta milhares de dólares para arrumá-las e decorá-las em estilo de época. Uma de suas últimas aquisições, por US$ 3 mil, foi a Knolle-Ripple House, do início do século 19, que estava começando a apodrecer e recoberta de trepadeiras e mato. Ela pretende transportá-la para Lonesome Pine, um dos seus três ranchos, a uma hora e meia de Houston.

Colecionar casas não é tão incomum nesse lado do Texas. John Kana, dono de uma empresa que transporta casas e que trabalhou para Elick, conta que chega a transportar 50 construções por ano e tem quatro concorrentes em um raio de 48 km. A geografia ajuda. Os terrenos são planos, em geral sem árvores, e as estradas, retas, o que torna o transporte uma operação relativamente simples.

Mas esse hobby não é barato. Os Elick são advogados e têm um escritório na cidade, mas foram obrigados a fazer com que seu hobby se pagasse, alugando as propriedades em um empreendimento chamado Texas Ranch Life, no qual oferecem pernoite com café da manhã nas propriedades que possuem. Os hóspedes são geralmente grupos que fazem terapia de casal ou executivos europeus que brincam de cowboy nos fins de semana.

Taunia e o marido advogam em uma cabana de troncos de madeira na pequena Bellville, perto de um posto de gasolina, e em uma casinha amarela de madeira em estilo alemão do início do século 19 que levaram até ali. Ela lembra que, quando era menina, ouvia as constantes conversas dos pais a respeito de uma “casa dos sonhos” que a família um dia construiria. Aos 12 anos, gastava a mesada em livros de projetos de casas e usava o tempo livre desenhando várias versões de como essa casa seria. Aos 16, a família finalmente se mudou para a casa dos sonhos, e isso acabou separando os pais.

O fato contribuiu para que ela desgostasse da tendência americana de construir casas grandes e caras e se interessasse pelas pequenas e velhas. O hobby começou em 1995, quando ele a John construíram um lago artificial para pescar entre duas pequenas colinas no seu rancho Lonesome Pine. Eles ficaram tão fascinados com a beleza do lugar que resolveram ter uma casa à beira do lago. E Tony Gerhardt decorador de interiores que havia já trabalhado para eles, sugeriu que trouxessem uma casa velha – ele encontrou para o casal uma antiga por apenas US$ 4.500.

Como quase todas as casas do casal, a do lago está pintada nas cinco cores tradicionalmente usadas pelos primeiros colonizadores alemães da região: amarelo-ocre, ferrugem, marrom, cinza e azul-celeste intenso. Tem decorações esmaecidas de flores silvestres abstratas rodeando o teto, que ainda eram visíveis quando a casa foi dilapidada. Gerhardt as incrementou com desenhos contemporâneos. “Muita gente acha que os colonizadores do Texas tiveram uma vida muito difícil – e de fato tiveram –, mas, mesmo assim, gostavam de ter coisas bonitas”, explica Taunia.

Há outras coleções de casas inspiradas por uma certa filosofia preservacionista nesse pedaço do Texas. Uma delas fica na cidade vizinha de Round Top (população 77, está escrito em uma tabuleta), onde a Fundação de Artes Pioneiras do Texas mantém um museu de dez casas antigas – a maioria das quais foi levada para lá de outros lugares.

Fonte: Estado de S.Paulo e Zap Imóveis

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