Arquitetos falam sobre a importância dos projetos urbanísticos de Reidy para o Rio de Janeiro

Rio de Janeiro - Década de 1940. Virtuoses da arquitetura moderna redesenham a paisagem das cidades com novos prédios, passarelas e áreas de uso comum. Entre eles está o francês radicado no Rio, Affonso Eduardo Reidy, arquiteto chefe da Prefeitura do Distrito Federal do Rio de Janeiro. Durante a sua atuação no cenário urbano carioca, até os anos 60, pelas suas mãos são realizados projetos canônicos como o Aterro do Flamengo, o Museu de Arte Moderna e o Conjunto Habitacional Pedregulho. A capital federal ganha ares mais modernos, tendo também como aliadosLe Corbusier e Lúcio Costa.
No ano em que Reidy completaria 100 anos, arquitetos comentam suas obras e destacam os elementos mais importantes de sua atuação na urbe carioca.
“Ele integra o grupo de arquitetos que foi decisivo para a implantação da arquitetura moderna do Brasil. Participou do projeto do MEC (Ministério de Educação e Cultura), que marcou a arquitetura brasileira dos anos 40 e 50. Foi um momento em que a arquitetura brasileira teve uma importância muito grande, dando visibilidade para os projetos políticos”, diz o arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (FAU-USP), Nabil Bonduki, também organizador do livro Affonso Eduardo Reidy, em parceria com Lina Bo Bardi e a editora Blau.


O trabalho de Reidy, para o arquiteto e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Edson Mahfuz, revela um período em que os projetos urbanísticos do estado e da prefeitura eram mais conceituais, inovadores. O funcioário público, diz, tinha maior autonomia. Projetos como o de habitação do Pedregulho e o Aterro do Flamengo propunham soluções urbanísticas, como o aterramento do mar, deslocamento de morro e de ocupação de vazios urbanos, que já na época eram bastante ousadas. Atualmente, o trabalho do funcionário público ficou reduzido às questões burocráticas, constata Mahfuz.



“A função pública, do arquiteto, ficou muito burocratizada, e menos atraente. Na época do Reidy, o funcionário colocava, ele mesmo, a mão na massa, além de criar um projeto conceitual. Em épocas mais recentes, o único arquiteto que posso citar, é o Conde, mas este já com uma atuação diferente.”

Nabil Bonduki faz coro com Edson Mahfuz e acrescenta:
“Hoje, a arquitetura autoral do poder publico é mais difícil de acontecer. Em geral, os projetos são coletivos e é raro um arquiteto do poder publico desenvolver um projeto. Tem um corpo de arquitetos muito grande, mas não autor de projetos autorais. O Reidy vai se destacar no serviço público como urbanista. Ele é um mestre da articulação entre a arquitetura e o urbanismo. Embora trabalhasse com espaço urbano, ele também projetava edificações. Reidy desenvolveu várias alternativas de projetos, de planos, para área de morro que foi desmontado no Rio em sua época. Ele, ao mesmo tempo, que propunha uma solução urbanística, fazia projetos dos edifícios. Atualmente, ísso é mais raro de acontecer”, informa Nabil.
Histórias de amor também são costuradas à vida de Reidy. O arquiteto se enamorou de Carmem Murtinho, na época diretora do Museu de Arte Moderna do Rio e diretora do departamento de habitação da prefeitura. Segundo conta Nabil, ela foi uma pessoa fundamental na sua vida e carreira.
“Carmem Murtinho era uma pessoa muito forte, com personalidade. Se impunha em ambientes masculinos, o que era raro na época e teve um papel decisivo nos dois principais projetos de Reidy, o Pedregulho, conhecido como o minhocão da Gávea e o MAM, Museu de Arte Moderna. Como diretora do MAM, ela viabilizou a construção sob o ponto de vista gerencial. Tomou como uma missão viabilizar a construção integral do Pedregulho, buscando recursos no Congresso. Certamente, se não fosse ela, o Reidy não teria tanto destaque, por ser uma pessoa mais retraída, não tinha o carisma do Niemeyer para conseguir espaço”, diz Nabil.

Fonte: Zap Imóveis e O Globo

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